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quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

O carro elétrico não vai salvar o mundo

a fabricante de carros Nissan estreou nos Estados Unidos uma propaganda provocativa sobre o seu novo modelo, o Leaf, que é 100% elétrico. O vídeo, que dura um minuto, acompanha a jornada de um urso polar afetado pelo aquecimento global que viaja milhares de quilômetros para, literalmente, abraçar um dono do veículo que está disponível em pré-venda no país.
O anúncio repercutiu nos sites e veículos norte-americanos. O blog sobre sustentabilidade do jornal New York Times destacou diferentes opiniões a respeito da propaganda: enquanto o site especializado em carros Autoblog afirmou que o vídeo é “sutil como uma caixa de martelos na cara”, o blog sobre publicidade Copyranter disse que ele é “ultrajantemente manipulativo” porque a Nissan continua a produzir milhões de carros que não são elétricos. Confira o vídeo e o resto do post abaixo:


O que a propaganda esconde
A agência publicitária responsável pelo anúncio não disse nem dá a entender que a produção de energia elétrica que abastece o carro vem de algum lugar, e polui bastante, ao menos nos Estados Unidos. “Lá, boa parte dessa energia é gerada em usinas termoelétricas, queimando carvão mineral”, afirma Francisco Nigro, engenheiro mecânico e pesquisador do desenvolvimento de motores que escreveu o artigo “O carro elétrico polui” (confira aqui na íntegra) na edição de julho da Galileu. Ou seja, o veículo elétrico não emite gases tóxicos, mas gera CO2 indiretamente e à distância através das usinas.
Continua...



Para determinar as vantagens do carro elétrico, é preciso analisar a cadeia de fornecimento de energia elétrica e a eficiência do motor dos veículos comuns e elétricos. Rubens Dias, professor do departamento de Engenharia Elétrica da Unesp de Guaratinguetá , diz que o automóvel normal aproveita 25% a 27% do combustível fóssil (o resto é transformado em gases tóxicos e calor). Já a eficiência das termoelétricas em produzir energia elétrica queimando carvão mineral pode chegar a 60%, valor que também é abatido em torno de 5% a 10% durante o caminho que traça até chegar à tomada do consumidor.
Segundo o documento Roteiro para a Difusão dos Veículos Elétricos, publicado pelo Instituto Nacional de Eficiência Energética (INEE) e a Associação Brasileira de Veículos Elétricos (ABVE) em maio deste ano, a eficiência de um motor elétrico é superior a 90%, e o veículo do tipo pode ter um sistema de freios que transforma a energia cinética gerada por uma freada em energia elétrica, que é diretamente armazenada na bateria. “Por causa dessa eficiência, o carro elétrico polui menos do que um veículo que usa gasolina quando você computa a cadeia toda. Mesmo que a energia elétrica venha do carvão, tenha origem suja”, afirma Jayme Buarque de Hollanda, diretor geral do INEE e presidente do conselho da ABVE.
Para Dias, o maior problema seria a “invisibilidade da energia”. “Há alguns anos, uma pessoa precisava esquentar lenha para cozinhar, depois aproveitava as cinzas. Hoje, quando você bate no interruptor, ele liga. Com o automóvel, é só ir num posto de gasolina e abastecer. Nós perdemos a sensibilidade do nosso consumo, e isso acontece com o automóvel elétrico também. A pessoa vê que ele não tem barulho, não solta fumaça, e acha que não tem nenhum impacto no meio ambiente, sendo que tudo gera impacto. Ela só jogou a responsabilidade para outro lugar”, afirma.
Mesmo com a popularização…

Segundo o documento da INEE e ABVE, em 2009 foram vendidos 745 mil carros elétricos híbridos (que também usam combustíveis fósseis) quando as vendas mundiais de veículos totalizaram 52 milhões, uma participação de 1,43%. Para Nigro, os veículos elétricos demorarão a popularizar porque o preço das suas baterias é muito alto. “E não é provável baixar esse valor e o destes carros em 10 anos. Eu acho que pode aparecer alguma tecnologia para baratear tudo em 20, 30 anos”, diz.
Dias afirma que existem outros problemas. É difícil de prever se o sistema elétrico vai comportar tantos carros quando a demanda crescer, e se as baterias deles serão recicláveis ou terão vida útil curta. “Toda iniciativa desse tipo, como o carro elétrico, é bem-vinda, apesar do abuso de termos como “ecologicamente correto”. Nós não podemos desprestigiar ideias, mas também não podemos exaltá-las. É importante termos equilíbrio, porque, no final das contas, quem paga a conta é a gente mesmo”, diz.

Um comentário:

  1. Mesmo que a produçao de energia venha pela queima de carvão, ainda é 2,4 vezes menos poluente que motores à combustão. veja: http://eco4planet.uol.com.br/blog/2009/09/nao-carros-eletricos-nao-poluem-mais-que-os-carros-atuais/

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